terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O cachorro amarelo - Georges Simenon

Tenho esse projetinho tímido de ler um Maigret por ano. É bem difícil de cumprir, pois são livros curtinhos, tão bons, tão gostosos de ler, que tenho que me segurar para não terminar de ler um e já emendar outro em seguida. Quando se gosta muito de um gênero, no meu caso, o policial, é preciso ter cuidado para não cair na armadilha de ficar lendo apenas isso. Todo mundo sabe que ler faz bem ao cérebro, mas não é aconselhável ler apenas um tipo de literatura, pra não ficar bitolado.

Depois de ter lido alguns livros de Simenon e do seu Maigret, posso dizer que acho que será difícil encontrar um que venha a ser uma leitura ruim. Mas este, O cachorro amarelo, é o melhor que li até agora. Se passa lá em mil novecentos e bolinha, e mesmo tão antigo, continua muito atual. Pois tem como mote principal a interferência da imprensa em investigações policiais.

Maigret precisa resolver um crime que aconteceu numa cidadezinha litorânea da França, onde a principal testemunha é um cachorro amarelo que surgiu do nada e não pertence a ninguém. Pelo seu caráter enigmático, o crime ganha bastante repercussão na imprensa, o que atrapalha as investigações de Maigret e também cria um clima de terror na cidade.

Maigret, sempre taciturno, resolve o crime de maneira magistral. Porém, passa por algumas dificuldades, sendo pressionado pela imprensa e também pelo prefeito da cidade, que exige que alguém seja preso, qualquer um, para que a cidade se acalme.

Achei essa leitura muito interessante, pois tem uma direta relação com os tempos de hoje, da tão falada pós-verdade. Onde a informação corre muito mais rápido e a imprensa, junto com as redes sociais, é quem diz o que está certo/errado, quem é inocente/culpado. Em determinado momento da história, o próprio policial investigador do caso acaba sabendo do desenrolar da investigação através de jornalistas. Em outro, a população promove uma sessão de linchamento influenciada pelas notícias publicadas nos jornais.

Além do suspense da investigação e do surgimento de novas vítimas, o leitor também encontra um acanhado, mas presente, clima de terror, já que o cachorro do título revela-se com um certo ar fantasmagórico, aparece e desaparece, deixa pegadas, surge do nada. Muito bom! Só me senti um pouco triste no final, pois desejava um desfecho diferente para o cachorro.

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