quinta-feira, 24 de maio de 2018

O alforje - Bahiyyih Nakhjavani

É uma experiência interessante ler um livro de um país ou cultura pouco conhecidos. Além disso, a história contada neste livro iraniano se passa em tempos passados, em caravanas que cruzam o deserto. A paisagem que circunda os personagens é formada por tempestades de areia, poços de água, tapetes persas, beduínos... ou seja, um livro completamente fora do meu padrão de leitura. E foi uma leitura muito gratificante, sair da zona de conforto e ganhar essa obra maravilhosa.

A história é narrada a partir do ponto de vista de 9 personagens, que dão nome aos seus respectivos capítulos. Estes, são costurados uns nos outros pela aparição de um objeto misterioso, o tal alforge do título, que exerce influência significativa nas vidas desses personagens.

A narrativa do livro é muito interessante. Toda a história tem apenas um clímax, contido num pequeno espaço de tempo, que é repetido em todos os capítulos, mas vivenciado apenas pelo personagem que é o foco do capítulo. Interessante também que nem todos os personagens vivenciam todo o acontecimento por completo, mas o leitor vai recebendo informação de pequenos momentos, de diferentes capítulos, e vai montando sozinho todo o cenário. É como se fosse uma narrativa em quebra-cabeças, onde cada pecinha preenchida vai revelando aos poucos a imagem completa. Achei genial!

Outra aspecto que chama atenção é o fato de os personagens não terem nomes, mas rótulos: o ladrão, o cambista, o religioso, etc. Esse aspecto me fez refletir sobre os meus preconceitos e como as vezes classificamos as pessoas e nos impedimos de nos conhecer particularmente. Pensei assim principalmente depois de ler o capítulo do personagem chamado de religioso, sendo ele odioso, não me despertou vontade de lê-lo. Inclusive parei de ler o livro por uns dias, achando ruim ter um capítulo todo dedicado ao personagem que menos gostava. E que grande surpresa foi, acabou sendo um dos melhores capítulos do livro, junto com o do cambista, que também sofria da mesma má impressão de minha parte.

Um comentário a parte para esta edição da TAG Curadoria. Belíssima! tornou-se o livro mais lindo da minha estante. As ilustrações são tão bonitas que dá vontade de arrancar e botar num quadro na parede. É realmente especial ler um livro que teve uma edição tão cuidadosa.

Uma dica para os que forem ler: esqueçam o sumário e descubram no decorrer da leitura quem serão os personagens donos dos 9 capítulos. Pra mim foi uma surpresa a cada virada de capítulo, principalmente no último.

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