sábado, 18 de agosto de 2018

Tempo de migrar para o norte - Tayeb Salih

A história se passa em um vilarejo do Sudão, onde a vida é simples e todos se conhecem. O narrador, que também é personagem, nos apresenta a Mustafa Said, um morador importante para a aldeia, que contribui para o seu desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida dos moradores. Porém, é um forasteiro e tem um passado misterioso, desconhecido de todos. Mas o mistério dura pouco e o passado de Mustafa Said é logo revelado assim como também logo sabemos da sua morte trágica.

O desenrolar da história foca então no impacto que Mustafa Said causou no narrador/protagonista, que passa a desenvolver uma certa obsessão por ele e também começa a encarar a vida através de uma nova perspectiva. Mustafa Said teeve um passado funesto, avassalador, que fascina o narrador de tal forma que muda a sua vida para sempre. 

Eu não gostei muito do livro, esperava alguma reviravolta ou que algo impactante acontecesse, mas nem as revelações sobre o passado de Mustafa Said nem certos acontecimentos do final alcançaram as minhas expectativas.

Mas é possível interpretar esse livro com um viés mais psicológico, aí ele fica mais interessante. A meu ver, o protagonista/narrador fica tão impressionando por ter conhecido Mustafa Said que, depois de sua morte/desaparecimento, tenta se tornar o próprio Mustafa Said, pretendendo inclusive desposar a sua viúva e assumir os seus herdeiros. Em alguns momentos do texto não é possível identificar de quem é a fala, se é do narrador ou de seu objeto de adoração, Mustafa Said. Ou seja, eles se confundem. Outro fator importante, o narrador não tem nome. É como se estivesse vago, aguardando que Mustafa Said tomasse posse de sua personalidade. Mustafa Said seria tão dominador assim que mesmo depois de morto seria capaz de dominar alguém? seria o narrador da história a sua última vítima? Acho que sim, o último parágrafo do livro é uma espécie de prova.

Não poderia deixar de mencionar as belíssimas metáforas sobre o Rio Nilo que acompanham toda a história. E também a rotina simples de gente simples, dos moradores da vila. A satisfação que nos traz viver da natureza e junto dos que amamos.

Fico contente de ter lido uma obra literária de um país tão distante e tão pouco conhecido, o Sudão. Vidas e realidade completamente diferentes da minha. Apesar de não saber ainda se o livro é bom, posso dizer que foi uma boa experiência. E aguardo uns anos para uma releitura onde tenho certeza que terei um veredicto.

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