sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Evangelho segundo Jesus Cristo - José Saramago

Conta a vida de Jesus de Nazaré, desde sua concepção até a sua morte. Passa também pela história do Cristianismo, fustigando polêmicas e subvertendo alguns dogmas católicos.


Saramago nos apresenta um Jesus, acima de tudo, humano. Com qualidades, defeitos e necessidades de homem. Filho de José e Maria, mas também concebido de semente divina, e apadrinhado pelo próprio diabo. Deus aqui é um ser ardiloso, cruel e tirânico, que encontra na figura de Jesus a chave para os seus misteriosos planos. O livro começa e termina na crucificação, mas é possível dividir em duas partes: antes e depois do encontro de Jesus com Deus.


Na primeira, temos um excelente romance histórico, em que o pai humano de Jesus,  José,  domina como protagonista. José é um carpinteiro de pouco talento e às vezes preguiçoso, temente a Deus e muito conhecedor dos ensinamentos religiosos. Mas também é apresentado como um personagem cômico, sendo suas falas carregadas de ironia. É verdade que, confesso, não sei bem se esse tom irônico faz parte das entrelinhas ou se está por minha conta (parte do processo de leitura é o próprio leitor, não é?). Mas, conhecendo bem o autor, dou o crédito a ele. Já Maria desaparece diante da pequenez e irrelevância da mulher naquela sociedade.


A segunda parte do livro toma Jesus como protagonista e segue um rumo inesperado, é quando Jesus encontra Deus e é avisado (em parte) da sua natureza divina e da sua missão fúnebre. Acompanhamos então a sua vida antes da crucificação, o encontro com os apóstolos e com Maria de Magdala. Somos então presenteados com alguns esclarecimentos bíblicos e injustiças são corrigidas.

Saramago é tido como um autor de difícil compreensão, mas a verdade é que ele é apenas diferente do normal. Sua escrita causa estranheza no início, mas logo o leitor se habitua e a leitura se torna fluida.


Sem dúvida, o melhor momento é o grande encontro no mar: Jesus, deus e o diabo sentados numa canoa, tendo uma longa, reveladora e surpreendente conversa.


Mas o que causou espanto para mim, lendo esse livro, foi encontrar os milagres e as aparições divinas como tal, e não como imaginação/ilusão/loucura coletiva. Também surpreendeu o Diabo, numa figura humana tangível, sociável e complacente.


Por fim, é um livro sublime. Divertido e triste ao mesmo tempo. Tenho certeza que foi concebido em momento de inspiração divina (=D). Recomendo altamente a leitura. 

Felizes são aqueles que leem Saramago.

"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez."

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