quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Mujica: a revolução tranquila - Maurício Rabuffetti

Fiquei intrigada quando soube que Pepe Mujica não era unanimidade em seu próprio país. Ao fim de seu mandato obteve apenas 56% de aprovação, o que está bem abaixo do que eu esperava, apesar de ainda ter sido aprovado pela maioria. Nesta biografia, que o próprio autor diz se tratar, na verdade, de um perfil biográfico, fica mais fácil entender como foi realmente o seu governo e o porque de uma aprovação, digamos, pouco satisfatória tendo em vista o seu desempenho e fama internacionais.

Rabuffetti começa falando de algo que de primeira conquistou o público internacional e foi motivo de várias entrevistas e artigos: a simplicidade do estilo de vida de Mujica. O famoso fusca, a casa modesta, o estilo despojado. Um agricultor que alcançou o cargo máximo no seu país. Um presidente "pobre" (sobre esse último, Mujica sempre procurou afastar essa alcunha, como mostra a citação no final do texto).  A sua filosofia de vida que condena o consumismo sempre foi assunto recorrente nas entrevistas e discursos.

Entre um capítulo e outro, o autor conta "causos" do presidente uruguaio, como o incidente da mordida do jogador Suárez, na copa de 2014, que o deixou indignado. Pode-se encontrar também trechos de entrevista e discursos de Mujica.

O autor dedica uma parte do livro a vida de guerrilheiro de Mujica enquanto membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros. Uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história do Uruguai e da América Latina. O livro expõe ainda alguns outros momentos da vida de Mujica, como quando escapou da morte, conheceu Che Guevara, e quando foi preso e torturado durante a ditadura uruguaia. Revela também a sua relação com o projeto Plan Juntos - programa habitacional de casas populares - em que contribuía com doações do próprio bolso. Não fica de fora o importante papel desempenhado por Mujica no fim do embargo a Cuba, nem o fracasso do seu governo na área de educação pública.

Mujica é um grande homem, sua história de vida confirma o seu compromisso social e humanitário, evidenciado principalmente nos atos de solidariedade em receber os presos de Guantánamo e os refugiadas sírios. Suas ações enquanto governante podem não ser unanimidade agora no seu país, mas acredito que uma boa gestão busca resultados a longo prazo. O reconhecimento virá e a herança do seu governo não ficará apenas para o Uruguai.
"Pobres são os que me descrevem. Minha definição é a de Sêneca: pobres são os que necessitam de muito; se precisa de muita coisa, é insaciável. Eu sou sóbrio, não pobre. Sóbrio. Com a bagagem leve. Viver com pouco, com o imprescindível. E não estar muito amarrado a questões materiais. Por que? para ter mais tempo. Mais tempo livre [...] para poder fazer as coisas de que eu gosto. A liberdade é ter tempo para viver. Então, há uma filosofia de vida na sobriedade que eu pratico. Mas não sou pobre."

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